O Mito da Caverna

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O Mito da Caverna

Blog da FRA
Publicado por Aula Lucis Central · 3 Julho 2021
No pórtico do templo dedicado a Apolo, em Delfos, havia uma inscrição: "Conhece-te a ti mesmo." Sócrates, cujo nome significa "mestre da vida", acreditava que aquele dístico era a pedra fundamental no caminho do conhecimento e da sabedoria. Considerado o homem mais sábio da Grécia pela própria pitonisa de Delfos, enunciou sua célebre conclusão a respeito: "Sei que não sei".

A afirmação paradoxal que ele era sábio porque "sabia que não sabia" contém implícita a tese de que o conhecimento da ignorância é o começo da sabedoria.

Nos "Diálogos" de Platão aparece a figura de Sócrates como um hábil questionador que usa, principalmente, de ironia para transmitir dúvidas aos interlocutores, representados por homens tidos como cultos, entre sacerdotes, poetas, militares, políticos, em sua pretensiosa sabedoria. O teste final consistia em indagar se o dialogador "sabia a ignorância expressa em sua questão...".

Em outra obra clássica, "A República", Platão também desenvolve muitas ideias de seu mestre Sócrates. No livro VII, a parábola da caverna tornou-se um marco filosófico no pensamento ocidental sobre processos de mudança social, educação e desenvolvimento.
A alegoria pode ser resumida como segue:

"Havia seres humanos vivendo numa caverna subterrânea com uma abertura para o exterior e a luz. Eles estavam lá desde a infância; suas pernas e pescoços estavam acorrentados de tal modo que não se podiam mover; só podiam olhar para a frente, para a parede do fundo da caverna, pois eram impedidos de virar a cabeça por causa das correntes. Havia um fogo ardente, à distância, que projetava sobre a parede do fundo as sombras de pessoas e objetos que passassem atrás.

"Assim os prisioneiros da caverna, que só podiam olhar para aquela parede, acreditavam que as sombras que viam eram a realidade, e passaram a distingui-las e nomeá-las, associando-as às formas que viam e aos sons que ouviam. As sombras eram a sua verdade, a realidade do seu mundo."

"Imaginando que um deles pudesse libertar-se das correntes, pôr-se de pé, virar a cabeça e olhar para o fogo, ele sofreria com a súbita e intensa luminosidade e não poderia ainda ver a nova realidade. Ele precisaria acostumar-se com a claridade do fogo e a visão do mundo superior, além da caverna. Veria primeiro as sombras, depois os reflexos de homens e objetos na água e então os veria diretamente; depois veria o céu. O sol e poderia raciocinar sobre ele. Esta é a sequência do conhecimento."

"Imagine-se que este homem retornasse à caverna. Teria dificuldades para acostumar-se novamente à semiescuridão e para interpretar as sombras com habilidade, como seus antigos companheiros faziam. Estes diriam que ele voltara enxergando menos que antes e ridicularizariam suas ideias, não acreditando na estranha realidade que lhes era relatada."

"Os prisioneiros concluiriam então que era melhor não sair da caverna, não rejeitar as sombras tão familiares, e que era extremamente perigoso aventurar-se lá fora. E se o regressado insistisse em suas ousadas e esquisitas opiniões, seria julgado um perturbador da ordem e condenado por tal conduta ultrajante."

A parábola da caverna, escrita no século IV a.C., discute as relações entre aparência, realidade e conhecimento, temas apaixonantes, atuais e ainda não esgotados no limiar do século XXI.

A caverna simboliza o mundo da visão aparente; a luz do fogo, o sol; a jornada do exterior, a subida ao mundo intelectual, do conhecimento e do bem. O mundo inferior ou visível é composto de sombras, aparências disformes da realidade, e é habitado por homens que se tornam prisioneiros de suas crenças e opiniões baseadas simplesmente no que enxergam. O mundo superior, o inteligível, é a verdade, a realidade na qual os homens são livres para ver a luz, o sol, o mundo, a existência.

Passar do mundo das aparências para o mundo da realidade requer coragem para assumir riscos, motivação para mudança, mente aberta.
Na organização, em geral, a maioria das pessoas age como os prisioneiros da caverna, acomodados em suas crenças ortodoxas que bloqueiam novas ideias e visões, tal qual as correntes da alegoria de Platão.

Os poucos inovadores corajosos, que conseguem libertar- se das correntes e trazer visões originais, costumam ser objeto de escárnio, desconfiança, desagrado, hostilidade. Se insistem em seus argumentos, podem por vezes chegar a sofrer sanções^ como isolamento, transferência, afastamento do cargo ou até exoneração - consumando-se sua execução simbólica, replicado julgamento, execração pública e condenação à morte de Sócrates, por estar pervertendo a juventude com suas ideias extravagantes, falsas e deletérias...

Conclusões acerca do Mito da Caverna:

A metáfora proposta pela Alegoria da Caverna pode ser interpretada da seguinte maneira:

Os prisioneiros: os prisioneiros da caverna são os homens comuns, ou seja, somos nós mesmos, que vivemos em nosso mundo limitado, presos em nossas crenças costumeiras.

A caverna: a caverna é o nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.

As sombras na parede e os ecos na caverna: sombras e ecos nunca são projetados exatamente do modo como os objetos que os ocasionam são. As sombras são distorções das imagens e os ecos são distorções sonoras. Por isso, esses elementos simbolizam as opiniões erradas e o conhecimento preconceituoso do senso comum que julgamos ser verdadeiro.

A saída da caverna: sair da caverna significa buscar o conhecimento verdadeiro.

A luz solar: a luz, que ofusca a visão do prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, é o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.

Mito da Caverna visto na atualidade:

Trazendo a Alegoria da Caverna para o nosso tempo, podemos dizer que o ser humano tem regredido constantemente, a ponto de estar, cada vez mais, vivendo como um prisioneiro da caverna, apesar de toda a informação e todo o conhecimento que temos a nossa disposição.

As pessoas têm preguiça de pensar. A preguiça tornou-se um elemento comum em nossa sociedade, estimulada pela facilidade que as tecnologias nos proporcionam. A preguiça intelectual tem sido, talvez, a mais forte característica de nosso tempo. A dúvida socrática, o questionamento, a não aceitação das afirmações sem antes analisá-las (elementos que custaram a vida de Sócrates na antiguidade) são hoje desprezados.

A política, a sociedade e a vida comum deixaram de ser interessantes para os cidadãos do século XXI que apenas vivem como se a própria vida tivesse importância maior que a preservação da sociedade. As notícias falsas estão enganando cada vez mais pessoas que não se prestam ao trabalho de checar a veracidade e a confiabilidade da fonte que divulga as informações.

As redes sociais viraram verdadeiras vitrines do ego, que divulgam a falsa propaganda de vidas felizes, mas que, superficialmente, sequer sabem o peso que a sua existência traz para o mundo. A ignorância, em nossos tempos, é cultivada e celebrada.

Quem ousa opor-se a esse tipo de vida vulgar, soterrada na ignorância, presa na caverna como estavam os prisioneiros de Platão, é considerado louco. Os escravos presos no interior da caverna não percebem que são prisioneiros, assim como as pessoas que estão presas na mídia, nas redes sociais e no mar de informações, muitas vezes desinformantes, da internet, não percebem que são enganadas.

Vivemos na época do predomínio da opinião rasa, do conhecimento superficial, da informação inútil e da prisão cotidiana que arrasta as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância e do fanatismo social, político, religioso e metafísico.


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