Príncipe Racoczy
Publicado por Frater Basílides em Racoczy · Segunda 25 Dez 2017
Durante a primeira parte do Século XVIII surgiu nos círculos da Europa à personalidade mais enigmática da História, um homem cuja vida foi um sinônimo de “Mistério”. O enigma de sua verdadeira identidade foi tão indecifrável para seus contemporâneos como o tem sido para os investigadores posteriores.
O Conde de Saint Germain foi reconhecido como sendo o mais profundo erudito e poliglota mais versado de seu tempo. Seus conhecimentos surpreendentes estendiam-se da Química à História, da Poesia à Música, da Psicologia à Política. Manejava com habilidade vários instrumentos musicais e dedicava-se, às vezes, a composições difíceis. Entre estas se encontra uma ópera encantadora.
Pintava com talento raro. Acredita-se que os surpreendentes efeitos luminosos que costumava imprimir as suas telas eram resultantes da mistura de madrepérola pulverizada com tinta. Essa habilidade lhe granjeou a admiração mundial.
Falava diversos idiomas. Neste particular ele se aproximava do sobrenatural. Manejava com tal desembaraço o Alemão, Inglês, Francês, Italiano, Português, Espanhol, Grego, Latim, Árabe, Sânscrito, Chinês e Japonês, que era aceito e tido em cada terra como nativo.
Ambidestro habilíssimo podia escrever, simultaneamente, as mesmas frases.
Fazia-o, porém, com tal perfeição, que sendo as folhas superpostas verificava-se que guardavam as palavras a mesma distância e as letras o mesmo tamanho.
Como historiador, o Conde de Saint-Germain possuía conhecimentos desconcertantes das cenas decorridas nos 2.000 anos precedentes. Em suas memórias descreveu, com detalhes íntimos, acontecimentos de séculos anteriores, nos quais ele havia tomado parte.
Ajudou Mesmer em suas investigações e auxiliou-o de modo notável no desenvolvimento da teoria do “mesmerismo”. Julga-se ter sido o Conde de Saint Germain o verdadeiro descobridor daquele princípio.
Seus conhecimentos de química eram tão profundos que removia, com facilidade, os defeitos apresentados por diamantes e outras pedras. O próprio rei Luís XV valeu-se dessa habilidade do Conde para valorizar em décuplo um diamante defeituoso que possuía.
Crítico de arte sem par foi consultado inúmeras vezes sobre quadros dos grandes mestres da pintura.
Afirmava o Conde aos seus íntimos possuir o “elixir de longa vida”. Madame de Pompadour declarou, certa vez, que o Conde presenteara a uma senhora da corte com certo líquido que tinha o poder extraordinário de preservar sua vivacidade e beleza durante mais de vinte e cinco anos contados do tempo normal.
Concorreu para aumentar sua fama o poder de predizer os acontecimentos com longa antecedência. A Maria Antonieta ele predisse a queda da Monarquia Francesa. Não falou do destino que lhe estava reservado, mas tinha pleno conhecimento disso.
A evidência suprema do gênio do Conde foi, porém, seu alcance e faro político sobre a situação da Europa. Causava surpresa ver como ele aparava os golpes de seus adversários políticos.
Por essa razão é que foi investido de várias missões secretas pelos governos europeus. Levava sempre, consigo, credenciais que lhe davam entrada nas rodas políticas mais intolerantes.
Saint_GermainA Senhora Cooper-Oakley, em sua monografia intitulada: “O conde de Saint-Germain, O Segredo dos Reis”, dá uma lista dos nomes que aquela personalidade usou como disfarce entre os anos de 1710 2 1822. Escreve: “Durante aquele período temos o Marques de Saint-Germain como: Marquês de Montserrat, Conde Bellamorre ou Aymão, em Veneza; Chevalier Schoening em Pisa;
Chevalier Weldon em Milão e Leipzig;Conde Saltikoff em Gênova e Leghorn, Graf Tzarogy em Sachwalbach Iriesdorf; Graf Príncipe Racoczy em Dresden; Conde e Saint Germain em Paris, Haia, Londres e S. Petersburgo. “
É evidente que o Mestre Saint-Germain adotou estes nomes no interesse da política secreta, a missão principal de sua vida, segundo os historiadores.
O Conde Saint Germain tem sido descrito como um homem de altura média, bem proporcionado de corpo e de feições, regulares e agradáveis, de tez um tanto trigueira. Seu cabelo era escuro embora, às vezes, fosse apresentado um tanto encanecido.
Vestia-se de preto, com grande simplicidade aparentemente, adorava os diamantes. Usava-os em anéis, no relógio, na corrente, na caixa de rapé e nas fivelas. Certo joalheiro avaliou em 200.000 francos o valor de seus sapatos.
Não tinha rugas e era livre de qualquer enfermidade; não comia carne e não bebia vinho. Poucas vezes comia na presença de outrem.
Embora fosse considerado charlatão e impostor pelos nobres da corte, Luís XV o tinha em elevada consideração. Tanto assim que repreendeu severamente um cortesão que lhe fizera uma observação deprimente a seu respeito.
Tão notável personalidade tinha ainda o poder extraordinário de adivinhar, até nos mínimos detalhes, as perguntas de seus inquisidores, antes de serem feitas. Por meio de uma faculdade semelhante à telepatia, podia sentir quando sua presença era necessária em algum estado ou cidade distante. Conta-se que ele aparecia de surpresa na casa de seus amigos, sem se ter valido do recurso de abrir a porta para entrar. Saia do mesmo modo.
A respeito de suas intermináveis viagens, escreveu Una Birch: “As viagens do Conde Saint Germain estenderam-se por período longo de anos. Desde a Pérsia até a França, de Calcutá a Roma ele era conhecido e respeitado. Horácio Walpole palestrou com ele em Londres no ano de 1745; Clive conheceu-o na Índia em 1756; Madame d’Adhemar afirma tê-lo encontrado em Paris no ano de 1789, cinco anos após sua suposta morte. Outros pretendem tê-lo conhecido no princípio de século décimo nono.”
Viveu sempre em íntima familiaridade com os soberanos da Europa e era amigo de todas as personalidades de destaque daquela época.
Nas cartas e “memórias” daqueles anos ele era mencionado sempre como homem misterioso.
Frederico, o Grande, Voltaire, Madame de Pompadour, Rousseau, Walpole e Chatham rivalizavam-se em curiosidade acerca de sua origem. Ninguém, porém, atingiu o objetivo. Durante muitas décadas ele ora surgia como agente jacobino em Londres, ora como conspirador em St. Petersburgo, ora como alquimista e crítico de pintura em Paris, ou como general russo em Nápoles.
De quando em quando se erguia a cortina que encobria sua vida íntima e podia-se surpreendê-lo tocando violão na sala de música de Versalhes, palreando com Horace Walpole em Londres, lendo na biblioteca de Frederico, o Grande, em Berlim, presidindo as reuniões de iluministas em cavernas da margem do Reno.
O Conde de Saint-Germain tem sido considerado como figura preeminente nas primeiras atividades franco-maçônicas. Entretanto, esforços inúmeros têm sido feitos para desacreditarem suas filiações maçônicas. Exemplo disso é o relato que aparece no “The Secret Tradition of Freemasonry” autoria de Arthur Edward. Este cavalheiro, depois de haver feito referências desabonadoras ao Conde de Saint- Germain, insere uma fotografia de outro Conde de Saint - Germain. Não soube, sequer, distinguir o verdadeiro conde de St. Germain do general francês de nome semelhante.
É fora de dúvida que o Conde de Saint-Germain era “maçom” e “templário”. Em suas “memórias” Cagliostro afirma que a sua iniciação na Ordem dos Cavaleiros Templários foi das mãos de Saint Germain .
Muitas pessoas ilustres com que se associou o Conde eram Maçons de Grau distinto. Tem-se guardado memória das conversações em que tomara parte e que são provas suficientes de ser ele um mestre das tradições franco-maçônicas.
Afirma-se, também que ele estava ligado com os Rosa-cruzes e que, possivelmente, tenha sido o Chefe daquela Ordem.
O Conde de Saint-Germain possuía ainda um refúgio no coração do Himalaia, para o qual se retirava periodicamente. Numa ocasião ele declarou que ficaria lá pelo espaço de 85 anos e que, após voltaria à cena de suas atividades europeias.
Por diversas vezes declarou estar obedecendo a um poder maior e mais elevado que ele próprio. O que ele não declarou é que era mandatário do “Colégio dos Mistérios” que o encarregara de certa missão. O Conde de Saint Germain e Sir Francis Bacon são os dois grandes enviados da “FRATERNIDADE SECRETA“ durante os últimos 2.000 anos.
E. Francis Udny, escritor teosofista, é de opinião que o Conde de Saint Germain não era filho do Príncipe Racoczy, da Transilvânia, mas ele próprio, Príncipe, devido à idade. Além disso, o Príncipe era conhecido como homem de natureza profundamente filosófica e mística. O mesmo escritor acredita que Saint-Germain passou pela “morte filosófica” a exemplo de Francis Bacon em 1826, e François Racogzi em 1735. Presume ainda, Francis Udny, que o Conde tenha sido o mesmo Conde de Gabalis e o Conde Hompech, este último Grão Mestre dos Cavaleiros de Malta.
É bem sabido que muitos membros das sociedades secretas europeias fingiram a morte por várias razões. O Marechal Ney, membro da Sociedade de Filósofos Desconhecidos, escapou do fuzilamento a que fora condenado, e sob o nome de Peter Stuart Ney, viveu durante mais de trinta anos em Carolina do Norte. Ao morrer, Ney declarou ao seu médico, Dr. Locke, ser o próprio Marechal Ney.
Terminando um artigo sobre a personalidade indecifrável do Conde de Saint-Germain, Sir Andrew Long escreve:
“Terá o Conde de Saint Germain morrido de fato em 1780 – 1785, no palácio de Príncipe Carlos de Hesse? Teria escapado da prisão onde Grosley o julga ter visto durante a revolução? Seria ele o Lorde Lytton? Teria sido ele o misterioso conselheiro do Dalai Lama? Quem sabe? Ele é o fogo fátuo dos escritores de memórias do século décimo oitavo” ∆
(Revista Gnose abril 1936 )